Tertúlia de sabores prussianos

É sempre assim quando tenho convidados. À hora marcada, ainda estou de avental e cabelos no ar e, quando toca a campaínha, não tenho outro remédio que não convidá-los a entrar na cozinha enquanto eu tento acabar tudo o que me tinha proposto fazer e os entretenho com um copo de vinho. Confesso que gosto de cozinhar assim, desde que o nariz dos convidados fique no vinho e não nas minhas panelas! Mas desta vez, tudo foi diferente. Primeiro, porque a minha convidada é virtual e, nestes convívios, o tempo e o espaço não impõem as mesmas restrições e segundo porque quem andou com o nariz nas panelas dos outros, descaradamente, fui eu. Isto tudo porque queria fazer uma refeição tipicamente germânica que relembrasse à minha tão querida convidada, a Moira, que todos nós conhecemos, os seus tempos pelo Sul da Alemanha! E quando se quer uma boa refeição germânica, pede-se a um germânico que a faça. Bom, neste caso, aproveitei a presença da minha Sogra cá em casa para fazer com o meu marido “Spätzle mit Rouladen”.  Spätzle é uma massa típica alemã, cuja tradução à letra, significa pardalinho. Qual a relação, não sei. Mas a verdade é que esta massa, no prato, parece um ninho! Pedi a receita à minha sogra e ela disse: ovos, farinha e água. E quantidades? Então, vês quando tiver uma boa consistência. Bom, esta estória já é velha, então o meu marido, prevenido e metódico, já tinha na sua história, a estória de tentativa e erro até chegar à consistência certa desta massa. Então ele fez assim: juntou 175 g de farinha, 2 ovos, 250 mL de água, sal e um gole de óleo. mexeu com a colher de pau, formando círculos e de cima para baixo. A massa fica com uma consistência muito forte e nada fluída.

Deixou a massa descansar durante 15 minutos. Entretanto, pôs muita água a ferver numa panela. Quando a água borbulhava fortemente pôs sal e óleo e encheu a máquina de pressionar o Spätzle.

Encaixou-a na panela, pressionou a massa para a água borbulhante e repetiu a operação enquanto houve massa.

Tapou bem a panela, pressionando a tampa e deixou cozinhar em lume alto durante 2 ou 3 minutos.  A massa está cozida quando vem ao de cima. Retirou para uma travessa.

Nesta altura já a minha sogra tinha os rolos de carne, ou rouladen, prontos. Que devem começar a preparar-se muito antes do Spaetzle – eu é que comecei a estória pela fim! Então ela fez assim: dispôs numa tábua os bifes finos e compridos. Barrou-os com mostarda em grão e recheou-os com cebola, salsa e bacon picados. Enrolou-os e prendeu-os com fio de cozinha. Marcou-os em azeite quente até dourarem. Retirou e juntou mais salsa, cebola e bacon picados e deixou refogar com cenoura, tomate e vinho tinto (e sal e pimenta). Deixou o molho apurar, reduziu a puré e voltou a juntar os bifes ao molho. Tapou a panela e levou-a ao forno durante uma hora. Levámos o “Spätzle mit Rouladen” à mesa e convidámos a Moira a sentar-se connosco. Moira, espero que tenhas gostado desta refeição, mas a noite ainda agora é uma criança. Depois do jantar, pomos os cachecóis e os gorros, as luvas e o casaco mais quente e acompanhamos o frio até ao Mercado de Natal no centro da cidade, para beber um Glühwein, que não deixa o frio entrar alma a dentro – até porque temos o coração quentinho com tão boa companhia para jantar!

(clique na imagem para os devidos créditos)

pumpkin strudel


Hoje, reparei que pela blogosfera se comemora o dia mundial da massa. Talvez a massa se resuma a macarrão, e assim sai a minha comemoração ao lado. Não se resumindo, trago a esta celebração uma massa que não vem de Itália. É um strudel de espelta e uma refeição ideal para um jantar de Outono. E o artista que compôs esta bela obra foi o meu marido.

 

E ele fez assim: Juntou 300 g de farinha de espelta com meia colher de chá de sal, 4 colheres de sopa de óleo de girassol e 3 gemas de ovo. Foi adicionando água fria até a massa ficar elástica e dividiu em quatro porções.

Deixou a massa e dirigiu-se ao recheio: Refogou cebola em azeite e pimenta moída na hora, juntou meio quilo de  abóbora hokkaido cortada aos cubinhos e, quando ficou al dente, juntou 300 g espinafre e 200 g de queijo feta esfarelado. Temperou com sal, noz moscada e ervas frescas.

E voltou à massa: pôs bastante farinha na bancada e esticou cada bola com o rolo da massa (tb. enfarinhado) e dividiu o recheio pelas quatro porções de massa. Depois, ao tentar enrolar o strudel, levantou a grande questão existencial: “porque é que experimento sempre novas receitas quando temos convidados?!” e eu sosseguei-o dizendo “tasse bem…”, que a sua grande criação estava no caminho certo. Então, ele  uniu as pontas da massa em vez de enrolar utilizando o típico processo de enrolar tortas. Assim fez e, para finalizar, pincelou a massa com azeite e ovo batido.  Foi ao forno a 180 graus por cerca de 30-40 minutos e ficou mais que perfeito.

spaghetti «ponha o seu título aqui»

 

A receita de spaghetti que vem da bela localidade de Bolonha é, aqui em casa, tão insistentemente adulterada sem remorsos nem tabus, que já nem lhe chamamos spaghetti bolognese. É uma das refeições favoritas da minha filha (ex-aequo com o peixe cozido) e, para além deste factor de grande peso na decisão do jantar de cada serão, é versátil, fácil de confeccionar e pode ser bastante saudável.

Ontem, tivemos a visita de uma amiga e seus 2 gémeos (de 4 anos). Fomos para o parque saltar no trampolim, brincar na areia, escorregar, correr, escalar a torre do parque aventura, escorregar ainda mais e então reparámos que escureceu. Viemos para casa, com o desejo de um prato quente e reconfortante, que abraçasse o nosso estômago estiraçado pela fome e que expulsasse o frio que imperava lá fora e teimava em entrar pela nossa pele adentro.

Enquanto a minha amiga brincava com os três pequenotes, fui para a cozinha. Um segundo de introspecção bastou para saber como haveria de nos reconfortar a todos com uma refeição quente e substancial. Aqueci e triturei uma sopa que a minha mãe deixou feita (cebola, cenoura, abóbora, nabo , uma batata, sal e azeite). Pus água numa panela e, enquando esperava que esta fervesse, abri uma lata de tomate inteiro em conserva, esmigalhei-o com os dedos e pu-lo numa frigideira com um fio de azeite e um cebolo em tirinhas, já que cortar e picar cebola demoraria muito tempo. Cortei 5 cm de chouriço em cruz e às fatias e juntei ao tomate. Entretanto fervia a água:  juntei o esparguete, alguma gordura e o sal (junto sempre o sal quando a água já ferve, pois aumentando o sal a densidade da água, a sua adição aumenta também o tempo que esta demora a atingir o ponto de ebulição). Deixei o molho de tomate cozinhar em lume brando os 12 minutos que a embalagem de esparguete recomendava para a sua confecção e piquei algumas folhas de manjericão, por ser a erva fresca que estava mais à mão. O esparguete foi para uma tigela grande de servir, juntei o molho de tomate, mexi e polvilhei com o manjericão picado.

A ideia desta receita é criar um prato saboroso com ingredientes básicos que normalmente estão  sempre na despensa (esparguete, tomate em lata), combinar o que houver no frigorífico com uma erva fresca dos vasinhos da varanda e ter uma refeição na mesa que demora tanto tempo a preparar quanto o tempo necessário para cozinhar o esparguete. Carne picada com salsa ou peixe com coentros (esta fica mesmo boa!) são outras combinações possíveis! Deixem a imaginação fluir! 😉

ps: com esta receita participo no desafio da Argas, receitas rápidas para o dia a dia!

Raviolis express

Há dias assim, em que sinto uma certa alergia ao fogão. Nestes dias, enquanto estou mergulhada na indecisão sobre o que fazer para o jantar, os factores decisivos são a rapidez e facilidade de confecção. Por vezes, até cozinhar esparguete me parece demorado e complicado! Mas não é e, quando a alergia ataca, o que fazemos é mesmo massa. No mercado, compramos sempre raviolis frescos ao italiano para contornar os dias assim. Basta ferver água, juntar os raviolis e deixar cozinhar 2 a 3 minutos! Se estiver mais inspirada, aqueço um bocadinho de azeite numa frigideira onde alouro dois ou três dentes de alho picadinhos, pimenta moída na hora e algumas ervas frescas do jardim e envolvo os raviolis, como fiz aqui. Da última vez que um destes dias nos brindou com a sua presença, dei por mim a pensar: “fazer esparguete demora tanto tempo, um ovo a estrelar precisa de tanta atenção… ai, o que fazer para o jantar? ah! os raviolis!”

Fervi água, mergulhei os raviolis, 3 minutos depois pesquei-os com a rede, cortei em quartos e oitavos uns tomates cereja que tinham que ser consumidos, fui apanhar uns raminhos de salsa, piquei, reguei com azeite, ralei parmesão, moí pimenta preta e salpiquei com sal. O resultado foi de tal modo satisfatório que a alergia ao fogão (quase que) me passou e resolvi fazer uma sopa express com a água onde as massas cozinharam. Juntei uma mão cheia de couscous à água, caldo de legumes e mais salsa picada e deixei repousar. A sopa não ficou atrás dos raviolis mas não chegou a tempo da sessão fotográfica.

pizzas lilliput

Hoje, quando o meu marido me disse que ia sair com os amigos, vi logo onde ia ser o meu serão. O leitor mais atento facilmente infere que foi na cozinha. Difícil foi decidir o que fazer. Doce ou salgado? Sopa ou salada? No forno ou no bico do fogão? A minha intenção era fazer de tudo um pouco, mas resolvi adoptar uma atitude mais realista e comecei por fazer massa para pizza.

Numa taça, juntei 175 gr de farinha integral, 175 gr de farinha de trigo, sal e açucar qb e um gole de azeite. Tirei outra taça do armário e pus em cima da mesinha lilliput, com o pacote da farinha ao lado e perguntei à pequerrucha se ela queria fazer pizzas. Ela dirigiu-me um olhar céptico e pediu-me mais uma vez para ir ver o Monstro das Bolachas no youtube. Eu fiz orelhas moucas, sentei-me na cadeirinha lilliput e comecei a juntar 200 mL de água tépida aos meus 350 gr de farinha. Quando a minha filha me viu com a mão na massa, então decidiu juntar-se a mim e começou a juntar farinha e água na taça. E na mesinha. No chão. Na sua cara, cabelo e roupa. Ela continou a mexer na massa dela e eu na minha, juntando mais farinha até a massa não pegar. Fiz uma bola, tapei e guardei em local escuro. Entretanto, adicionei um pouco de sal à massa da minha filha, pensando fazer “dip-sticks”. A minha filha entusiamou-se com a ideia e, num momento de distração, apanhou o sal, talvez pensando ser farinha ou simplesmente pensando: ” a xi doci na. ja. maix mamã. já tá”, e verteu o pacote na sua massa. Tentei resgatar a massa rejeitando o sal, mas ela não achou muita graça. Afinal, esta era a sua massa. Então, perguntei se queria fazer rolinhos com a massa, demonstrando-lhe o procedimento de transformar uma bolinha de massa num cilindro rolando-a entre as mãos. Ela começou a enrolar a massa entre as suas mãozinhas, mas resolveu passar a retirar bolinhas da massa e dar-mas. Levei os rolinhos ao forno e a minha filha à banheira e, de seguida, à caminha. Entretanto, a minha massa da pizza já tinha descansado mais do que os 15 sugeridos na receita original e os rolinhos da minha filha já tinham adquirido um tom levemente dourado. Tirei-os do forno e comecei a tratar da minha massa. Retirei 12 bolinhas do tamanho de uma noz, enfarinhei-as e transformei-as em bases de mini pizzas com o rolo da massa. Pus a outra metade da massa no frigorífico, piquei as mini bases com um garfo e pincelei com azeite e alho esmagado. Levei-as  a forno quente a 200 graus e comecei a preparar o recheio das pizzas. Numa tacinha, pus um tomate grande cortado em cubinhos pequeninos, dois dentes de alho esmigalhados, uma colher de sopa de Crème fraîche, uma colher de chá de pesto verde (manjericão e pinhão), flôr de sal e pimenta. Fui ao meu jardim e trouxe dos vasos da varanda um raminho de oregãos frescos, outro de sálvia, mais um de alecrim e um outro de tomilho. As mini bases ficaram no forno por 10 minutos. Retirei-as do forno e coloquei-lhes o topping: uma colher de sopa em cada mini base, por cima as ervas frescas picadas (em algumas bases, todas misturadas, noutras cada erva a solo) e, para finalizar, ralei parmesão. Levei ao forno por mais 10 minutos e sairam de lá umas pizzas lilliput apetitosas e saborosas!

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Spaghetti Aglio, Olio e Peperoncino

A minha filha adora esparguete a bolonhesa. Devora com um apetite voraz a sua porcao. Devora, deixando as marcas do seu apetite na mesa, na cadeira e no chao. E no cabelo. E na roupa. Dela e minha. A hora da refeicao la em casa e uma festa. Daquelas que deixam muito para limpar a seguir. Bom, eu tambem adoro esparguete a bolonhesa, mas confesso que ultimamente nao quero nem cheira-lo! Ontem ao almoco, enquanto o esparguete borbulhava e a carne, a cenoura e o tomate cozinhavam lentamente, rapidamente descasquei uns dentes de alho. Pus azeite na frigideira com os alhos cortados em fatias finas e uma malagueta desfeita. Deixei alourar levemente. Quando o esparguete cozinhou al dente, escorri e pus a minha porcao na frigideira com o alho e a malagueta e temperei com sal e pimenta. Mexi ate o esparguete abracar os alhos no azeite e adquirir um dourado muito leve, quase imperceptivel. Fomos para o “festim do almoco” e eu deliciei-me com  este prato, que comi enquanto o diabo esfregou o olho. Depois foi a vez da minha anjinha esfregar o olhinho e pedir caminha para dormir a sestinha!… (e uma sestinha era agora para mim uma dadiva dos deuses! mmm, acho que vou ler aquele artigo que esta na lista “to read” ha tanto tempo e virar a cadeira para a porta. Ate ja… zzz…)