A primavera vem duas vezes

Preparava-me, no jardim, para arrancar os pés secos das favas, quando reparo que por baixo nasce um novo pé. Deixei-os florir e apanhei esta segunda dose inesperada e menor de favas. Como um arco-íris e sua réplica num dia de chuva.
Com vontade de fazer algo mais fresco que a receita clássica, peguei na salada de grão escondida neste post e adaptei-a às favas. Cozi-as em vapor na panela de pressão e temperei-as com cebola roxa picadinha, coentros, azeite, vinagre, flor de sal e pimenta. E foi um ver se t´avias.

À mesa do jantar de dia de Reis…

… esteve sua Majestade, o Bacalhau, que chegou em encomenda especial, vinda de Portugal. Enquanto o Rei trilhava o longo  caminho que separa a Prússia do Algarve, trilhava eu as 100 receitas de Bacalhau do Pantagruel. Procurava algo que me devolvesse o sabor de Portugal…

Esperado por todos os habitante do Reino, chegou cansado e moído, depois de uma jornada mais longa do que previsto,  ditada pelas desfavoráveis condições meteorológicas. Preparei-lhe um banho de água gelada, para que retemperasse a sua força. E, durante dois dias, fui renovando as suas águas, lavando o seu sal, fui pensando qual haveria de ser, afinal, o seu fado.

Sabia só que depois do banho de água gelada viria a sauna do forno. Sabia que teria alho e teria coentros, para me levar a Portugal. E ainda fascinada pela crosta verde da Consoada, saberia bem que coroa levaria o Rei para a mesa de Reis.  E foi à 101ª receita, da Vânia dos Sabores da Alma, que vi perante os meus olhos como tudo se iria passar.

Parti uma carcaça seca em pequenos pedaços, piquei um ramo de coentros e miguei 2 dentes de alho. Juntei 2 goles de azeite e transformei em papa com a minha varinha mágica. E libertou-se o aroma que me despertou todos os sentidos: agora, já lá estava e soube então que, por muito que falhasse, nada iria falhar.

Aqueci o forno a 200 graus, já o meu marido tinha descascado algumas batatas e cortado em cubinhos do tamanho de uma falange. Distribuí-as por uma travessa de cerâmica e espalhei alguns dentes de alho. O Rei foi para a travessa, tendo o cuidado de deixar a sua pele para baixo. Barrei a sua carne branca com o creme verde e outra vez senti este intenso aroma a açorda. Espalhei o resto da crosta pelas batatas e levei ao forno por cerca de 50 minutos, até as batatas estarem macias por dentro e douradas por fora, até o bacalhau adquirir um bronzeado suave na sua carne branca. Perfeito. Depois deste verde, veio aquele vermelho.

Um shot de vitaminas

O inverno consome-me. Leva-me a energia e a resistencia. E abre-me o apetite, de uma maneira voraz, especialmente para alimentos bem calóricos. Mas hoje, o apetite era de cor e vitaminas. Peguei no vermelho de uma beterraba, no laranja de 2 cenouras, no verde de um molhinho de coentros e no vermelho-verde de uma maçã. Descasquei a beterraba, confiei no selo biológico da cenoura e deixei a sua fina pele marcar presença (e a maçã, aqui em casa, não sabe o que é sair da casca, de todos os modos). Bati tudo no mixer com alguma água, pus num copo alto e rectifiquei a água. Juntei uma colherinha de açúcar, mais coentros picados e um gole de azeite para suavizar o gole. E saborei este arco-iris de cores avistando da janela a paisagem branca, monocromática.

Cestinhos na ponta dos dedos

Quando vêm amigos cá a casa, prefiro encher a mesa de pratos, pratinhos, travessas e tábuas com petiscos variados, do que fazer uma refeição tradicional. A minha finger food de eleição neste momento são cestinhos de tomate ou pepino recheados com um dip. Abri os tomates ao meio e retirei as sementes e a polpa do centro. Descasquei um pepino intercalando uma risca de pele verde-escuro com uma risca sem pele e cortei-o em fatias de 3 dedos de grossura. Com uma colher de chá, fiz uma covinha no centro das fatias de pepino e até meia altura. Juntei os centros que retirei dos pepinos às sementes do tomate, juntei uma embalagem de queijo creme e um alho esmigalhado. Peguei na minha varinha mágica e transformei tudo numa mistura homogénea. Juntei sal, pimenta, paprica e uma mão cheia de coentros picados. Mexi muito bem, comprovei os sabores e juntei uns pinguinhos de sumo de limão. Enfeitei com uma folhinha de coentro e foram à mesa. Um dos convidados perguntou: “Typisch Portugiesisch?“. Eu disse que não, mas depois voltei atrás e assenti. Alho, limão e coentros são sabores que me levam a casa.

Pesto de coentros com alho e sementes de abóbora

A Pipoka inspirou-me com este pesto de coentros. É das tais receitas que tinha que experimentar imediatamente! Comecei por tostar uma mão cheia de pevides numa frigideira anti aderente. Reservei as pevides e pus um gole de azeite. Juntei dois dentes de alho esmagados e deixei fritar levemente. Nestas andanças, para mim o alho tem que andar sempre a par com os coentros. Os coentros a solo fariam a festa e brilham em saladas e sopas, conferindo aquela sua típica frescura sem precisar de par. Mas casar alhos com coentros é para mim o sublimar do melhor dos sabores de cada um. Basta pensar nos pratos maravilhosos da cozinham portuguesa que conjugam alhos com coentros. Reservei os alhos e, enquanto esperava que arrefecessem, piquei um ramo de coentros e sequei com papel absorvente. Juntei umas pedrinhas de sal, moí pimenta preta, juntei um gole de azeite, os alhos e as pevides. Triturei e fui juntando azeite até atingir uma consistência pastosa (cerca de 2 c.s.). Ao voltar ao post da Pipoka, reparo que tanto a receita da Pipoka como a da Fer e da Agdá tem sumo de limão. Da próxima vez conjugo o trio alho-coentro-limão.

Quais coentros?

Afinal nao houve nem risotto, nem legumes com coentros e leite de coco. Houve carne estufada, sobre a qual hei-de falar nos proximos episodios. Pelo que tive que adiar o destino fatal dos coentros. Para isso, resolvi fazer uma conserva de coentros. Lavei-os em agua com vinagre, onde ficaram a nadar uns 10 minutos, cortei-os finamente com troncos e tudo, sequei-os, pu-los num frasco de vidro, juntei um alho migado e azeite ate tapar, tapei o frasco e deixei-o a descansar no frigorifico. A salsa teve um destino mais simples: o processo de lavar e cortar foi o mesmo que o dos coentros mas pu-la numa caixinha e congelei. Hoje o meu marido juntou um pouco da conserva de coentros ao seu molho secreto para a salada de rabano e a frescura dos coentros fez-se sentir.