Grünkohl é a (minha) nova couve galega

Hoje, o post é especialmente dedicado à comunidade portuguesa em terras prussianas, que sofre com as saudades do belo caldo verde. Quando o inverno se instala e a terra nos dá as típicas couves de inverno, Grünkohl a minha favorita, o caldo verde é presença constante na nossa mesa. Cozo na panela de pressão as batatas e uma cebola em bastante água com um chouriço e as couves cortadas o mais fino possível e cozinhadas a vapor, também na panela de pressão. Ao primeiro apito, desligo o fogão e separo couves e chouriço das batatas, que trituro. Corto o chouriço e volto a misturar tudo. É agora a minha sopa favorita e satisfaz também o resto da família.

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Mas, hoje é meatless monday, por isso o chouriço está fora de questão. Não, caro leitor, não sou apologista de que o chouriço não é carne! Se bem que…, mas bom, hoje, meatless monday, com o frigorífico cheio desta parente prussiana da couve galega, e estando o caldo verde tal como o descrevi fora de questão, questionei-me como cozinharia a couve. Não perguntei à minha filha o que queria para o jantar por saber que a resposta era “espargueeeeete!!” e decidi antecipar-me à sua vontade.

Quanto às couves, cozinhei-as como se fossem espinafre e fiz um esparregado. Fritei 5 dentes de alho e uma cebola em azeite e, quando a cebola ficou transparente, juntei as couves rasgadas em pedacinhos. Deixei-as cozinhar durante certa de 20 minutos e, de vez em quando, juntei alguma água da cozedura do esparguete, para não secar demasiado. Temperei com sal e pimenta.

No fim, juntei, sumo de um limão e mais um gole de azeite e misturei bem. Na mesa, a minha princesa disse: “Oh, esparguete! obrigada, mamã!”. A minha princesinha, que só queria o esparguete, rendeu-se à couve quando lhe dei meio limão para ela espremer no seu prato.

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Spaghetti Aglio-gatinho – ano IV

Foi no passado sábado que o Reino da Prússia comemorou 4 anos. Nada como um aniversário para fazer o balanço do ano. Mas na verdade, este ano, não há muito a “balancear”, dada a escassez de artigos. Gostava de dizer que o próximo ano é que vai ser, no ano V vou publicar frequentemente. Mas, apesar de temer que a frequência se mantenha, para manter também é a rubrica “Meatless Monday”. No entanto, hoje, apesar de ser segunda feira e porque é dia de festa, para o jantar temos esparguete com camarões, para satisfazer o desejo da princesa do meu reino no seu dia de aniversário. 

Comecei por cozer o esparguete em água fervente. Usei camarão tigre congelado, cerca de 400 gr. Fritei 5 dentes de alho em azeite e juntei os camarões já (semi-) descongelados e salsa picada por escassos minutos. Mas as tigrezas afinal de tigre não tinham nada e, assim que se viram no calor do fogão, reduziram-se a pequenos gatinhos. Só faltou o “miau”. Mas satisfez o desejo da minha princesa no seu dia de aniversário e era essa a minha intenção. Quanto à princesinha, apesar do fascínio por gatos, mordeu e cuspiu, mas o esparguete escorregou.

Lazy breakfast

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As férias estão a chegar. Asfixiada por prussianos – e, por isso, improváveis – 40ºC, sinto que o Alentejo tomou a Prússia. Fecho as persianas, abro os vidros na esperança vã de uma leve aragem e, ao fim de semana, entrego-me ao deleite de uma longa sesta – que desejo tão longa quanto durar a hora de calor. Mas, loucura das loucuras, deixo-me cair na tentação de ligar o forno para enriquecer o pequeno almoço, longo, tardio, preguiçoso. O forno lá fora já está ligado. Mais um, cá dentro, não fará diferença. Derretido por 100, derretido por 1000. Pelo prazer de bruschettas a abrir a mais importante refeição do dia. 

Comecei por cortar dois tomates em pedacinhos miudinhos e temperei com salsa e 1 dente de alho muito picado. Sal e pimenta. Por cima de pãezinhos diversos cortados a meio e temperados com um fio de azeite, dispus o tomate, e por cima uma fatia de queijo. O meu favorito: Gouda de cabra. Foi a forno quente a 180 até o queijo adquirir a consistência e cor desejada. Do forno para a mesa, brilhou num pequeno almoço de fim de semana com outros actores também de grande calibre.

O poema possível

Para mim, os poemas não pertencem em livros. Aí, estão estrangulados, presos entre páginas e pó. Os poemas, são para ser cantados e gritados. E, hoje, só há um poema possível*:

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
 Para jantar, fiz coelho na panela – e: qualquer relação entre este coelho e qualquer outro roedor é pura coincidência!
Do bicho já esquartejado no talho, trouxe três pernas. Afoguei-as em muito vinho tinto, louro e alho e deixei marinar três horas. Aqueci azeite numa panela resistente ao forno e selei-as. A minha filha perguntou: “Ó mãe, vais matar o coelho na panela?” Eu disse-lhe que não, que quando comprei o coelho, ele já vinha morto. E decidi não alongar mais a conversa. Com as pernocas bem tostadas, juntei vegetais de todas as cores. O laranja da cenoura, o vermelho da beterraba e o amarelo da batata. Juntei duas cebolas em quartos.
Quando os vegetais ficaram tão bem misturados com o coelho que já não era possível distinguir a cor de cada vegetal, a única coisa a fazer foi juntar a marinada de vinho. Levei ao forno cerca de 40 minutos.
Depois, no prato, completei com a cor esperança da salada e cantei o poema à minha mesa sentado.

1494

16 de Outubro de 2565, algures no Planeta Azul.

Hoje é dia do Mar. Sempre senti um fascínio inexplicável por este manto de água. Diz-se que outrora era azul, umas vezes turquesa, outras esmeralda. E que, espante-se, havia até criaturas capazes de nele viver. Nisso, nunca acreditei. Só há cinco espécies de seres vivos e todos morreriam mais de alguns minutos dentro de água. Olhei a janela. A cor sépia do céu reflectia-se no mar. E no chão, cinzento, de pó e pedras. Senti uma fraqueza nas pernas e decidi comer algo. Fui a sintetizador de alimentos e marquei o que precisava: DDR de vitamina D, carbono, açúcar, fibras, proteínas, água, etc. etc. etc. A maquineta pôs-se a trabalhar e saíu uma barra da cor daquele céu, que engoli. Não sei como vim parar a esta vila virada para o mar. Sei que, desde então, não vira vivalma. Nem de rato, nem de barata, nem de morcego. Bom, minto, uma gaivota pairou uma vez na minha paisagem e levou-me a minha barra de alimento daquele dia. Tudo aconteceu depois da grande conflagração dos povos. Ou, deverei dizer, da grande dizimação da vida. Eu salvei-me. E salvou-me a minha máquina de alimento.  E o facto de nenhum Bárbaro, Visigodo, Ostrogodo, Vândalo ou Alano ter sequer suspeitado que tal relíquia ainda existisse, ainda para mais nas mãos de uma criança. Decidi seguir o caminho até ao mar. Por causa do meu fascínio, que nasceu das estórias que me contava o meu Avô. Dizia-me ele que, há muito muito tempo atrás, no tempo em que os pássaros chilreavam, havia quem navegasse nos mares em pequenas casas flutuantes. Queriam descobrir o que havia depois do mar, depois do horizonte. Suspirei e dei uma volta pela casa. Parei em frente àquela roleta de manivela dourada que estava numa das divisões. Nunca me atrevi a dar à manivela, mas a verdade é que aquilo me fascinava. Havia o que parecia ser uma dessas casas flutuantes, havia Reis, havia Animais, Plantas, Palácios. Enfim, todos os personagens das fantásticas estórias do meu Avô. Arrebatado pela Saudade, girei a manivela, girei, girei, gritei, chorei, e de repente, as luzes da máquina acenderam e, no centro da roleta, apareceu “1494”. Senti tudo a girar à minha volta e devo ter desmaiado. Quando acordei, o céu era azul. Levantei-me a custo e quase fui de novo derrubado por alguém apressado, que me disse: “O que estás aqui a fazer, sai da frente, rapaz! Olha vai mas é ver se o rei precisa de préstimos!”, e apontou-me um palácio lindo, a recortar o céu em tons dourados. Belisquei-me. Entrei no palácio e procurei, silencioso, sinal de vida. O meu silêncio era a minha sobrevivência, como tinha aprendido durante a minha peregrinação para o mar. Por detrás de pesados cortinados vermelhos, estanquei. Ouvia vozes.

“… revistei todo o palácio, estamos sózinhos”. “Então debrucemo-nos sobre o mapa. O navegador da minha prima pensa que chegou a Calicut, mas os cálculos dos meus cientistas dizem algo bem diferente”, disse aquele homem de caracter imponente. “Sua Majestade, tem a certeza? Será que esses cálculos têm mesmo poder preditivo?”. “Têm mais que isso”, disse o rei, fixando o seu interlocutor. Ficaram um minuto em silêncio. “Sua Majestade, D. João II, então façamos o seguinte: tracemos uma linha imaginária no eixo longitudinal da Terra e dividamos com Espanha, deixando esta parte de “mar” do lado Português.

Voltei a beliscar-me. Um aroma inebriante chegou-me ao nariz. “Sua majestade, a ceia que pediu. Rojões de vaca com batatas”. De repente, comecei a salivar e dei por mim, hipnotizado, a seguir o cheiro. Deparei-me com o que deveriam ser “rojões de vaca com batatas” e o meu instinto foi mais forte, esquecendo que me tinha que esconder para não ser descoberto. Pus na boca, mastiguei, senti algo sensacional, engoli e comi, comi, até aparecer uma mulher gorda com uma vassoura na mão que me enxotou dali para fora, dizendo: “O que estás aqui a fazer petiz?? Vai já buscar os ovos às galinhas! Ai que levas já com a vassoura!!! Diabo do rapaz…. Ah, se te apanho!” Saí, sem conseguir descrever aquela sensação dos rojões e batatas na minha boca. A que sabe a carne frita lentamente em alho e azeite, temperada com louro? A que sabem batatas fritas? Não sei. A vida, talvez. Bordando o céu azul, um passarinho chlireava pousado num galho verdejante.

D. João II é o meu convidado Aristocrata, do Convidei para Jantar…, desta vez albergado na casa da Alice.

À mesa do jantar de dia de Reis…

… esteve sua Majestade, o Bacalhau, que chegou em encomenda especial, vinda de Portugal. Enquanto o Rei trilhava o longo  caminho que separa a Prússia do Algarve, trilhava eu as 100 receitas de Bacalhau do Pantagruel. Procurava algo que me devolvesse o sabor de Portugal…

Esperado por todos os habitante do Reino, chegou cansado e moído, depois de uma jornada mais longa do que previsto,  ditada pelas desfavoráveis condições meteorológicas. Preparei-lhe um banho de água gelada, para que retemperasse a sua força. E, durante dois dias, fui renovando as suas águas, lavando o seu sal, fui pensando qual haveria de ser, afinal, o seu fado.

Sabia só que depois do banho de água gelada viria a sauna do forno. Sabia que teria alho e teria coentros, para me levar a Portugal. E ainda fascinada pela crosta verde da Consoada, saberia bem que coroa levaria o Rei para a mesa de Reis.  E foi à 101ª receita, da Vânia dos Sabores da Alma, que vi perante os meus olhos como tudo se iria passar.

Parti uma carcaça seca em pequenos pedaços, piquei um ramo de coentros e miguei 2 dentes de alho. Juntei 2 goles de azeite e transformei em papa com a minha varinha mágica. E libertou-se o aroma que me despertou todos os sentidos: agora, já lá estava e soube então que, por muito que falhasse, nada iria falhar.

Aqueci o forno a 200 graus, já o meu marido tinha descascado algumas batatas e cortado em cubinhos do tamanho de uma falange. Distribuí-as por uma travessa de cerâmica e espalhei alguns dentes de alho. O Rei foi para a travessa, tendo o cuidado de deixar a sua pele para baixo. Barrei a sua carne branca com o creme verde e outra vez senti este intenso aroma a açorda. Espalhei o resto da crosta pelas batatas e levei ao forno por cerca de 50 minutos, até as batatas estarem macias por dentro e douradas por fora, até o bacalhau adquirir um bronzeado suave na sua carne branca. Perfeito. Depois deste verde, veio aquele vermelho.

Cestinhos na ponta dos dedos

Quando vêm amigos cá a casa, prefiro encher a mesa de pratos, pratinhos, travessas e tábuas com petiscos variados, do que fazer uma refeição tradicional. A minha finger food de eleição neste momento são cestinhos de tomate ou pepino recheados com um dip. Abri os tomates ao meio e retirei as sementes e a polpa do centro. Descasquei um pepino intercalando uma risca de pele verde-escuro com uma risca sem pele e cortei-o em fatias de 3 dedos de grossura. Com uma colher de chá, fiz uma covinha no centro das fatias de pepino e até meia altura. Juntei os centros que retirei dos pepinos às sementes do tomate, juntei uma embalagem de queijo creme e um alho esmigalhado. Peguei na minha varinha mágica e transformei tudo numa mistura homogénea. Juntei sal, pimenta, paprica e uma mão cheia de coentros picados. Mexi muito bem, comprovei os sabores e juntei uns pinguinhos de sumo de limão. Enfeitei com uma folhinha de coentro e foram à mesa. Um dos convidados perguntou: “Typisch Portugiesisch?“. Eu disse que não, mas depois voltei atrás e assenti. Alho, limão e coentros são sabores que me levam a casa.

Pesto de coentros com alho e sementes de abóbora

A Pipoka inspirou-me com este pesto de coentros. É das tais receitas que tinha que experimentar imediatamente! Comecei por tostar uma mão cheia de pevides numa frigideira anti aderente. Reservei as pevides e pus um gole de azeite. Juntei dois dentes de alho esmagados e deixei fritar levemente. Nestas andanças, para mim o alho tem que andar sempre a par com os coentros. Os coentros a solo fariam a festa e brilham em saladas e sopas, conferindo aquela sua típica frescura sem precisar de par. Mas casar alhos com coentros é para mim o sublimar do melhor dos sabores de cada um. Basta pensar nos pratos maravilhosos da cozinham portuguesa que conjugam alhos com coentros. Reservei os alhos e, enquanto esperava que arrefecessem, piquei um ramo de coentros e sequei com papel absorvente. Juntei umas pedrinhas de sal, moí pimenta preta, juntei um gole de azeite, os alhos e as pevides. Triturei e fui juntando azeite até atingir uma consistência pastosa (cerca de 2 c.s.). Ao voltar ao post da Pipoka, reparo que tanto a receita da Pipoka como a da Fer e da Agdá tem sumo de limão. Da próxima vez conjugo o trio alho-coentro-limão.