Esta é outra receita favorita das minhas pequenotas. Aparentemente, são várias as receitas a ocupar o pódio e a nova vencedora é “schpáguét com ursinhos de gomas” que eu, obviamente, ignoro. Mas obviamente não é dessa que vou falar. Aqui em casa, esta receita é conhecida como a sopa da Avó, mas para o caro leitor é canja. A canja. É das tais receitas que requer esforço mínimo (não tendo que matar o frango), mas tempo de preparação (mesmo não matando o frango). Ponho um frango dentro da panela de pressão, encho com água até dois terços, e tempero com um ramo de salsa, sal, pimenta, uma cebola picada, meia folha de louro e uma cenoura inteira mas descascada. Espero até a panela apitar e, depois, ponho o fogão no mínimo. Deixo cozinhar durante uma hora no total. Depois, desfaço o frango, tento cortar em pedacinhos a cenoura hiper cozida, que já serviu o seu papel – dar mais gosto ao caldo – mas que ponho na mesa para quem quiser juntar à canja. Volta o caldo à fervura, junto o frango desfeito e massinhas. É daquelas refeições que, salpicada com limão e hortelã, é só conforto e saudade.
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Aqui há peixe
Aqui na Prússia também há bacalhau. Compro-o fresco congelado. Se os prussianos pudessem caracterizar esta receita, chamar-lhe-iam “peixe à mediterrâneo”. Para mim, os pratos mediterrâneos são diferentes e este é apenas peixe com legumes. Refoguei curgete em azeite, com cebola e pimentos vermelhos numa frigideira. Noutra, fritei a posta congelada do bacalhau – este foi um prato espontâneo, sem tempo de descongelar o peixe – em azeite, até ficar dourado por fora e suave por dentro. Acompanhei com pão numa refeição solitária que me fez indagar o porquê de peixe+curgete=mediterrâneo na linguagem prussiana. Fiquei sem resposta mas apreciei o prato que, no fundo, acaba sempre por me levar a Portugal.
Aqui há carne (I)
O nosso carneiro de domingo de Páscoa foi frango assado no forno. Tenho que confessar: refeições sem carne ou sem peixe têm escasseado na nossa mesa. E por uma boa razão. De todos os modos, frango assado é o prato favorito das minhas princesas. A minha filha mais velha (ou maior, como ela faz questão de frisar. “Eu não sou “véi-a”, mamã,”) pede a pernoca do bicho, embrulha o osso visível em guardanapo e delicia-se a morder a carne. A minha filha mais nova, diz-me “I-au”, que traduzindo de “bebês” para Alemão para Português, significa: “eu também”. E esta receita de frango é mesmo para comer à mão e molhar muito pão no molho. E lamber os dedos a seguir. Sim, uma decadência. Das boas.
Comecei por ligar o forno a 200 graus. Depois, fiz o molho que iria temperar o frango. Misturei sal e pimenta com azeite, oregãos e pimentão doce. Pincelei o frango. Cortei em oitavos quatro cebolas. Pus o frango num tabuleiro pincelado com azeite e distribui um limão também em oitavos, guardando duas partes do citrino dentro do frango. Reguei com cerveja. Foi ao forno. Meia hora passada, virei o frango e juntei as cebolas, dentes de alho com e sem camisa, e batatas cortadas em longitude. Mais meia hora, e foi para a mesa. As batatas revelaram-se supérfluas. O ponto máximo da decadência atinge-se apenas com o frango e o pão no molho. Bom, a minha filha deu um passo ainda mais à frente e quis comer o molho à colher.
Grünkohl é a (minha) nova couve galega
Hoje, o post é especialmente dedicado à comunidade portuguesa em terras prussianas, que sofre com as saudades do belo caldo verde. Quando o inverno se instala e a terra nos dá as típicas couves de inverno, Grünkohl a minha favorita, o caldo verde é presença constante na nossa mesa. Cozo na panela de pressão as batatas e uma cebola em bastante água com um chouriço e as couves cortadas o mais fino possível e cozinhadas a vapor, também na panela de pressão. Ao primeiro apito, desligo o fogão e separo couves e chouriço das batatas, que trituro. Corto o chouriço e volto a misturar tudo. É agora a minha sopa favorita e satisfaz também o resto da família.
Mas, hoje é meatless monday, por isso o chouriço está fora de questão. Não, caro leitor, não sou apologista de que o chouriço não é carne! Se bem que…, mas bom, hoje, meatless monday, com o frigorífico cheio desta parente prussiana da couve galega, e estando o caldo verde tal como o descrevi fora de questão, questionei-me como cozinharia a couve. Não perguntei à minha filha o que queria para o jantar por saber que a resposta era “espargueeeeete!!” e decidi antecipar-me à sua vontade.
Quanto às couves, cozinhei-as como se fossem espinafre e fiz um esparregado. Fritei 5 dentes de alho e uma cebola em azeite e, quando a cebola ficou transparente, juntei as couves rasgadas em pedacinhos. Deixei-as cozinhar durante certa de 20 minutos e, de vez em quando, juntei alguma água da cozedura do esparguete, para não secar demasiado. Temperei com sal e pimenta.
No fim, juntei, sumo de um limão e mais um gole de azeite e misturei bem. Na mesa, a minha princesa disse: “Oh, esparguete! obrigada, mamã!”. A minha princesinha, que só queria o esparguete, rendeu-se à couve quando lhe dei meio limão para ela espremer no seu prato.
Sopas
Mentalizo o próximo post e dou por mim a “falar do tempo”. Recuo, mas não consigo evitar o pensamento fatídico: “Será mau sinal? Quando já só se fala do tempo…”. Mas recuso o sinal e entrego-me às sopas.
Penso em sopa e salivo. Esta é a fase em que estou. Vou arrastando o resto da família comigo. As princesinhas do Reino comem-na, sôfregas, diminuindo até ao limite, espaço e tempo entre colheres. A minha sogra comeu e não comentou – isto porque nem conseguiu proferir palavra perante tal maravilha culinária que saíu da minha panela de pressão! O meu marido juntou sal, pimenta, provou, mais sal e, respondendo à minha pergunta, disse “muito bom”. Eu não sei quantas vezes voltei à panela de pressão, mas nesse serão fiz da sopa entrada, sopa, prato principal e sobremesa.
E como fiz a sopa: demolhei cerca de 150 gr. de grão durante o dia e cozi-o sobre pressão. Cortei 2 batatas, uma cebola, 4 ou 5 cenouras e a parte branca de um alho francês em cubos ou tiras e atirei tudo para a panela de pressão. Juntei o caldo e reservei o grão. Sal e azeite. Entretanto, num tachinho, cozi espinafres e massinhas de letras. Quando a panela deu os devidos apitos, triturei tudo a preceito e juntei os espinafres e massinhas.
Mas há outra “summer queen” no reino das sopas da prússia. Com uma base parecida à anterior, mas sem grão e com 2 tomates no puré, e com feijão verde em vez de espinafres. E muita hortelã no fim, a temperar.
Assim se fez o mês de Agosto, não só com sopas, mas também com muito mar do Norte, muito sol, vento e cabelos a voar. E com a inevitável pergunta dos prussianos a quem vem do outro extremo da Europa: “Então, isto é melhor que o Algarve?” E eu dou a vaga resposta “Não é possível comparar”. E como poderei eu comparar a solidão das praias do Norte com o barulho das praias de Agosto no Sul. As dunas do Norte com as minhas falésias ou a areia prateada com a areia dourada. Mas tenho que aqui afirmar que as gaivotas do norte são mais atrevidas. Se eu deixar, vão-se com o bico ao meu farnel.
O poema possível
Para mim, os poemas não pertencem em livros. Aí, estão estrangulados, presos entre páginas e pó. Os poemas, são para ser cantados e gritados. E, hoje, só há um poema possível*:
- Grândola, vila morena
- Terra da fraternidade
- O povo é quem mais ordena
- Dentro de ti, ó cidade
- Dentro de ti, ó cidade
- O povo é quem mais ordena
- Terra da fraternidade
- Grândola, vila morena
- Em cada esquina um amigo
- Em cada rosto igualdade
- Grândola, vila morena
- Terra da fraternidade
- Terra da fraternidade
- Grândola, vila morena
- Em cada rosto igualdade
- O povo é quem mais ordena
- À sombra duma azinheira
- Que já não sabia a idade
- Jurei ter por companheira
- Grândola a tua vontade
- Grândola a tua vontade
- Jurei ter por companheira
- À sombra duma azinheira
- Que já não sabia a idade
Sopa de pastinaca
Nada como a sopa para combater o frio que cai nos dias. Esta sopa, com pastinaca e queijo curado dos Alpes é uma boa surpresa. É quente e suave, é doce e forte. Gostei especialmente do contraste entre o sabor forte do queijo e a doçura e suavidade da pastinaca.
Tudo ao mesmo tempo na panela de pressão: uma pastinaca grande, 1 batata, uma cebola, a parte branca do alho francês e uma mão cheia de arroz. Depois de cozido, triturar, temperar com sal e pimenta e, no prato, polvilhar com o queijo ralado, salsa picado e um fio de azeite.
Almôndegas
Ontem, acompanhei um episódio da visita da Frau Merkel a Portugal no youtube. E reparei como a senhora franzia olho e sobrolho a olhar o mar naquele dia de verão de são martinho. Será muita luz para a sua menina do olho, habituada à escuridão do inverno bárbaro.
Aqui o sol está distante e sem brilho. E está frio. E, ainda por cima, não há verão de São Martinho. A minha filha disse-me: “Oh mãe vamos dormir e só acordamos quando formos para Portugal”, e eu concordei, obviamente, estimulando ainda mais a minha vontade de hibernar. Não podendo satisfazer este meu desejo, enrolo-me no conforto do lar com mantas, chá e almôndegas.
E faço-as assim: misturo 500 gr de carne picada com cerca de 4 colheres de sopa de flocos de aveia, 1 dL de natas, (muita) salsa picada, uma cebola picada, sal e pimenta. Misturo tudo e formo bolinhas, que reservo. Faço um molho de tomate bem apurado, com cebola e mais salsa e, quando este fervilha, junto as bolinhas de carne. Deixo cozinhar muito lentamente, em lume brando, por mais de uma hora. E sirvo-as enroladas em linguini.
Abóbora no dia mundial das massas
Porque hoje é o dia mundial das massas, foi fácil decidir o que seria o jantar. Combinando os elementos da estação com o frio que faz lá fora, deixei-me inspirar por uma sugestão do meu marido.
Cortei meia abóbora hokkaido em cubinhos, uma cebola aos pedacinhos e pus num tacho cerca de 200 gr. de bacon cortado aos pedacinhos. Deixei o bacon frigir na sua própria gordura e juntei a cebola até amolecer. Juntei os cubinhos de abóbora e alguma água onde o esparguete fervia. Deixei cozinhar até que a abóbora ficasse desfeita e juntei um ramo de salsa picada. Finalizei com duas colheres de sopa de crème fraîche. Misturei com o esparguete al dente e servi este prato de consolo de uma noite de Outono.