No outro dia comprei ruibarbo no mercado. Queria fazer bolo de ruibarbo, muito comum por aqui na primavera. Não querendo destronar sua majestade, o espargo, digamos que o ruibarbo é como o “regente” da Primavera prussiana e, enquanto as abelhinhas andam de flor em flor, por todas as padarias se vêem bolos do pecíolo desta planta. Trouxe mais uma vez o Sr. regente para a minha cozinha sem ainda ele saber que destino o esperava. De conversa com a minha sogra, disse-lhe que queria fazer um bolo de ruibarbo e não sabia como. De uma assentada, ela deu-me logo duas soluções para o problema. Entretanto, o vegetal ficou esquecido no frigorífico por uns dias. Hoje, a minha sogra cortou os caules em troços, fez compota e disse: “temos que comer o ruibarbo hoje”. Ao serão, depois da diabin… ah… pequerrucha adormecer, pus mãos à obra, seguindo uma das sugestões da sogra. Separei 4 gemas das suas claras. A máquina bateu as claras e eu bati as gemas com 4 colheres sopa de açúcar. Quando as claras ficaram brancas, juntei as mesmas colheres de açúcar e deixei montar o castelo. Verifiquei o castelo virando o recipiente 180 graus. Não cairam, então continuei, dando agora atenção às gemas. Juntei 4 colheres de óleo. Comecei a juntar farinha e leite. Nisto, ouço alguém bater à porta da cozinha. Era a minha sogra. Espantada, perguntou: ” o que estás a fazer?!?!?!?”, “um bolo de ruibarbo”, “agora?? já é tão tarde! não estás cansada? é melhor ires relaxar.” nesta altura, pensei: tão querida a minha sogra, preocupa-se com o bem estar da nora, e disse: “eu relaxo a cozinhar. podes tu relaxar no sofá enquanto eu faço o bolo” mas ela não se demoveu e voltou a dizer que o melhor era comer o ruibarbo assim e eu disse-lhe que se ela quisesse podia comer o ruibarbo e eu fazia bolo de maçã, mas a ideia não a cativou. nesta altura já os seus óculos estavam a 45 graus do recipiente da massa. Após três perguntas seguidas, que eu nem sequer tive oportunidade de compreender o profundo significado, vejo a minha sogra pegar na farinha e começar a pôr na minha massa. As minhas mãos voaram para a minha cabeça, deixando o fermento cair no chão e pensei que cozinhar com a minha filha é bastante simples, pois basta dar-lhe um bocadinho de massa para brincar. E confesso que a ideia de lhe perguntar se ela queria um bocadinho da minha massa me ocorreu como um relâmpago, mas felizmente a ideia desapareceu tão rapidamente como apareceu…
A minha sogra continuou a inquirir sobre o procedimento de confecção e eu tentei convecê-la de que a receita da massa era boa, argumentando que era a receita da avó e receita da avó nunca falha. Mas nem reparei na grande falha do meu argumento, pois ela também é avó, logo… entretanto ela virou-se para as claras em castelo e eu apanhei a massa outra vez, mexi e verifiquei a fluidez. A minha sogra há uns tempos ensinou-me um truque para verificar se a massa está no ponto: levantar a colher de pau e deixar escorrer; se escorrer finamente, está boa. Então, coloquei a massa numa forma redonda untada e, quando me preparava para dispôr o ruibarbo cozido e escorrido, ela disse: “espera, tens que cozinhar a base primeiro”. nesta altura, compreendi que afinal a intervenção da sogra na confecção do bolo o salvou de um destino fatal. Deixei a base cozinhar 12 min em forno aquecido a 150 graus. Retirei do forno, dispus então o ruibarbo, bebi o sumo que escorreu da cozedura do talo do vegetal e, finalmente, dispus as claras em castelo. Foi ao forno até as claras em castelo dourarem e saíu de lá um belo bolo. Deixámos arrefecer, cortámos uma fatia para cada, cruzámos um olhar quase a roçar a cumplicidade, dissemos: “mmmm!…”, entre um sorriso e um gole de chá.
E foi assim que, com as “dicas” da sogra este bolo saíu tão bem e confirmou que, mais uma vez, a receita de uma avó nunca falha, mesmo quando a avó também é sogra! 😉
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