Breakfast Jemima

Este é um belíssimo pequeno almoço para a época festiva. A ideia veio de uma amiga minha indiana. Ela fez  crepes (apenas com água e farinha) e fez um puré de frutas e especiarias fantástico. Triturou algumas frutas que haviam em casa e temperou-as com canela e cardamomo. Desta vez, o que fiz foram panquecas de aveia e farinha integral e fiz a olho. Peço desculpa pela imprecisão desta receita, mas o exercício que tentei fazer para rever as quantidades foi infrutífero. Assim, deixo a lista de ingredientes e o leitor por sua conta e risco: leite, ovos, farinha de trigo (integral e refinada) e flocos de aveia.

Porque a essência desta receita é o que agora descrevo: triturei uma banana com uma maçã e um kiwi. Juntei canela, cardamomo e coco ralado e mexi. Recheei as panquecas com este puré e descobri que o Natal assim, com  um toque indiano é ainda mais sagrado! Desejo a todos um bom Natal e um próspero ano novo!

Comboio nocturno de Lisboa

Era uma noite cálida de Outubro. Estava na Gare do Oriente, em Lisboa, à espera do comboio e à espera da resposta à pergunta a queimar a garganta. “Será que este é o meu comboio?”, “claro”, respondi-me imediatamente, “a decisão certa é aquela que se toma” relembrando um provérbio oriental. Deixei-me dominar pelo misto de excitação, felicidade  e nervoso miudinho que me invadiu. Nas duas malas,  a meu lado na Gare, tinha empacotado a minha saudade. Tudo o que não coube na bagagem, reduzi a pó. Às onze badaladas, despedi-me dos três amigos, que são família e amigos, amigos e família e parti.  Já no comboio, pensei que mais uma vez ia mudar a terra sob os meus pés. Olhando pela janela, disse a mim própria que mudava a terra, mas não mudava o céu, ao reconhecer uma ou outra constelação na noite escura. Cheguei a Madrid, onde tomei o pequeno almoço, continuei até Paris, almocei, e cheguei a Berlim para o jantar. Para o jantar, para uma vida, para várias vidas.

Vinte e tal anos depois, estava na hora de voltar a apanhar o comboio. Numa noite de Dezembro, quando um vendaval rodopiava nas janelas, pus um tacho ao lume com um litro de água, 5 cravos da Índia, 5 vagens de cardamomo, 1 pau de canela, um pedaço (1 cm) de gengibre  e 5 bagos de pimenta preta. Fervilharam no tacho durante 25 minutos.

“Amor”, chamei, “contas-me outra vez aquela tua história com o Guru no Nepal?”, “Outra vez?!?! … bom, está bem. Já lá vão 35 ou 40 anos, não sei. Cheguei à aldeia e dirigi-me a um grupo de pessoas. Estavam todos à espera que o Guru saísse da sua gruta, para ouvirem as suas palavras sábias. Fiquei também à espera. Finalmente saiu. O eremita, com dreadlocks que lhe chegavam ao rabo, estava totalmente besuntado com cinzas de excremento de vaca. É, parece estranho, não é? Mas para os Hindus, o fogo é sagrado e as vacas são sagradas. E excrementos de vaca queimados são super sagrados!” Tive que voltar a rir com a sua frase e pedi-lhe que continuasse. “Passou um cachimbo, que foi de mão em mão pelos elementos do grupo e começou a falar. Eu não percebi uma palavra, mas fiquei totalmente magnetizado, hipnotizado pelas suas palavras, pela sua expressão. Não sei quanto tempo passou, mas sei que ardia em sede, precisava de beber algo. Felizmente, passou pelo grupo também um chá, que eu bebi de uma assentada, sem perguntar antes que chá era. Pois bem, descobri da pior maneira que era um chá de chili super forte, que me deixou com as goelas a arder!”

E eu voltei ao meu chá. Desliguei o lume, juntei uma saqueta de chá preto e deixei em infusão durante 2 ou 3 minutos. Verti algum chá na minha chávena e fui buscar uma cervejinha gelada para o meu marido. Pedi-lhe que se sentasse no sofá vermelho, que precisava de lhe falar. “Temos que fazer as malas”, disse-lhe, “o tal comboio que um dia partiu de Lisboa, está quase a partir, agora de Berlim.”, “O que devo pôr na mala?”, perguntou, “O mesmo que puseste quando foste ver o Eremita. O comboio nocturno leva-nos até S. Petersburg, daí apanhamos o transiberiano para sul e depois, ainda não sei como, vamos às montanhas do Nepal, a templos no Tibete e seguimos para Varanasi. E depois… ” A gargalhada do meu marido interrompeu-me: “Ahahahah! Acho que o teu comboio nocturno para o transiberiano é um avião para Katmandu!” Eu ri-me com ele e dei um gole no meu chá Yogi, deixando  envolver-me no leve e agradável picante da pimenta e do gengibre. Já lá estávamos…

Assim participo no desafio chocolate e picante que a Suzana lançou – enquanto trinco um quadradinho de chocolate a 80%. Esta é uma estória verídica. Se algo ainda não aconteceu, é porque vai acontecer!

Chocolate quente para o frio

Como se distingue um prusso de um russo, quando as suas cabeleiras são ambas russas?

Um prusso, aos -4 º C, põe uma carapuça. Um russo não põe carapuça, abanando a cabeleira russa! E esta lusa que vos fala, enfia literalmente duas carapuças. Mas uma delas, enfiei-a ao próprio frio! Isto, fazendo um chocolate quente, adaptado da Laranjinha.

Num pequeno almoço longo de Sábado, sem vontade de café nem chá, decidi fazer chocolate quente e espesso. E decidi não adiar mais o inevitável, fazendo esta receita da Laranjinha que, quando vi, soube que tinha que fazer! Mas adaptei, porque era de manhã e não me apetecia começar o dia com um gole de conhaque e piripiri, mesmo que escondido no chocolate.


Comecei aquecer o 200 mL de leite, aromatizado com açúcar baunilhado, cardamomo, canela e uma pitada de noz moscada. Ao levantar fervura, baixei a temperatura do bico do fogão e juntei 50 gramas de chocolate negro com 85% de cacau, partido em pedacinhos. Mexi até incorporar bem e deixei cozinhar mais um pouco, mexendo sempre. Pus numa chávena, e antevendo um dia enérgico, juntei uma colher de sopa de leite em espuma e um shot de espresso. E ficou delicioso! O meu marido, que rejeitou a ideia de chocolate quente, provou e disse que sabia a Natal.

Ricotta espresso

Andava aqui às voltas no google e a procurar nos blogues do costume, mas não me conseguia decidir. Queria fazer uma sobremesa com ricotta e não tinha ideia como. E hoje queria uma sobremesa. Express!  Voltei ao google e aos blogues do costume e nada. Fui ao capítulo de bolos de chocolate de um livro de culinária e, enquanto trincava uns quadradinhos do dito, pensava que qualquer uma daquelas receitas serão para experimentar. Mas não neste serão. Foi quando voltei ao google e vi uma receita da mafalda pinto leite de bolos de chocolate e mirtilos com queijo fresco, que eu descobri o que ia fazer este serão para acalmar as minhas reservas vazias de energia, dilacerantes de tão vazias, consequência de um belo dia de verão passado de parque infantil em parque infantil.

A razão tem razões que a razão desconhece e, depois de ver a tal receita, lembrei-me de uma sobremesa simples e enebriante que comemos em Creta há algum tempo, sugestão do chefe. Ainda duvidámos que algo à partida tão banal como iogurte e mel pudesse constituir algo tão  soberbo como o grego que nos servia nos fez acreditar. E soberbo foi pouco para descrever a combinação perfeita de texturas e sabores do iogurte grego com mel de creta. Less is more.  Não tinha o iogurte grego, mas tinha a ricotta, não tinha o mel de creta mas tinha outro do alentejo. peguei numa chávena de espresso, pus 2 colheres de chá de ricotta, 1 colher de café de mel e polvilhei com cardamomo. mmm!… não sei se foi da necessidade gritante de açúcar, se foi da combinação de sabores, mas este ricotta espresso transformou-se em ricotta 2 vezes espressi. E depois lembrei-me que se calhar com 2 gotas do teu aperitivo/digestivo favorito também não seria nada mau. Ah, such a perfect day!