Lá fora, o Natal vestiu branco…

…mas cá dentro, o Natal fez-se de vermelho de calor, de magia e de desejos, fez-se de verde de pinheiro e de saudade. E fez-se de esperança, de felicidade e de descoberta.

Mas decidir o que comporia o jantar de consoada não foi assim tão fácil. O meu marido queria rouladen, eu queria uma receita nova. Depois de alguns argumentos e contra-argumentos, decidimo-nos por carne assada no forno com crosta verde e com batatas no forno. E foi um trabalho a quatro mãos. Era uma peça de carne para assar, com 1 kg. O meu marido selou-a em azeite bem quente e em todos os seus recantos e reservou. Na mesma gordura, refogou cebola com cenoura e alho francês, regou com vinho branco, temperou e deixou cozinhar. Entretanto eu fiz a crosta verde assim: desfolhei três raminhos de tomilho e dois de alecrim, juntei um ramo de salsa, um cebolo, uma fatia de pão duro, 100 gr de manteiga, sal e pimenta. Triturei tudo e juntei azeite até ligar bem. Entretanto já o forno estava a 200 graus e lá estava já a panela, tapada, com os legumes e outra vez com a carne. O meu marido espalhou a crosta em papel próprio para ir ao forno, numa área equivalente à área da carne que queria cobrir e reservou no frigorífico.

Eu comecei a tratar das batatas: descasquei-as e cortei em fatias, não deixando que perdessem a sua forma de batata. Pus numa forma de barro, reguei com azeite, salpiquei com sal e dispersei cerca de 12 dentes de alho com camisa entre uma batata e outra. Entretanto, reparo que o meu marido espreitava por detrás do meu ombro. Apesar de ser um jantar a quatro mãos, foi também por turnos, pois o meu marido já sabe bem o que penso, e o perigo que pode ser, quando alguém abre a porta da minha cozinha. E mesmo sabendo, não se coíbiu e, além de me espreitar por trás do ombro, ainda me disse que eu deveria deixar algum espaço entre as fatias de batata, para que cozinhassem melhor. Eu olhei para o bidente que estava na bancada, olhei para ele, peguei no bidente e dirigi-o às batatas para seguir a sua sugestão, picando e movimentando cada fatia de batata para a esquerda e direita para deixar circular algum ar pelas fatias, e disse-lhe que tinha razão. Bom, a sua sorte é ser assim, tão irresistível!… e a sugestão foi importante, caso contrário, as batatas demorariam muito mais que a hora que precisaram!  Com a carne no forno já há uma hora, juntei a forma de barro com as  batatas. A partir dos 15 minutos, comecei a regar as batatas com o seu próprio azeite.

Quarenta e cinco minutos depois, o meu marido retirou a panela com a carne e colocou-lhe a crosta por cima (o que não foi tarefa tão fácil, apesar de ter já a forma desejada), e eu pus em duas pequenas forminhas de barro, cerca de 10 tomate-cereja regados com azeite e flor de sal. E eu continuei a regar as batatas com o seu azeite. Já com a carne há duas horas a assar, desligámos o forno. O meu marido pôs a carne na travessa, triturou os legumes, rectificou os temperos, voltou a provar e a rectificar.

Levámos à mesa este jantar de consoada, acendemos as velas e deixámo-nos levar pelo  momento de uma noite muito especial e muito feliz, apesar de  faltarem algumas das nossas pessoas, umas por não estarem aqui, outras por já não serem agora. Mas essas e aquelas, fazem falta a qualquer dia, não só na noite de consoada.

Nota 1: a receita da carne foi adaptada de um receita de rosbife de uma compilação da Landlust, de onde também retirei a receita das batatas.

Nota 2: desta vez, até tinha algumas fotos interessantes sobre o jantar mas perderam-se no caminho entre um copy e um past. Peço desculpa aos meus queridos leitores e que apelem à vossa fantasia – e não é o natal uma época de fantasia e magia?

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Tertúlia de sabores prussianos

É sempre assim quando tenho convidados. À hora marcada, ainda estou de avental e cabelos no ar e, quando toca a campaínha, não tenho outro remédio que não convidá-los a entrar na cozinha enquanto eu tento acabar tudo o que me tinha proposto fazer e os entretenho com um copo de vinho. Confesso que gosto de cozinhar assim, desde que o nariz dos convidados fique no vinho e não nas minhas panelas! Mas desta vez, tudo foi diferente. Primeiro, porque a minha convidada é virtual e, nestes convívios, o tempo e o espaço não impõem as mesmas restrições e segundo porque quem andou com o nariz nas panelas dos outros, descaradamente, fui eu. Isto tudo porque queria fazer uma refeição tipicamente germânica que relembrasse à minha tão querida convidada, a Moira, que todos nós conhecemos, os seus tempos pelo Sul da Alemanha! E quando se quer uma boa refeição germânica, pede-se a um germânico que a faça. Bom, neste caso, aproveitei a presença da minha Sogra cá em casa para fazer com o meu marido “Spätzle mit Rouladen”.  Spätzle é uma massa típica alemã, cuja tradução à letra, significa pardalinho. Qual a relação, não sei. Mas a verdade é que esta massa, no prato, parece um ninho! Pedi a receita à minha sogra e ela disse: ovos, farinha e água. E quantidades? Então, vês quando tiver uma boa consistência. Bom, esta estória já é velha, então o meu marido, prevenido e metódico, já tinha na sua história, a estória de tentativa e erro até chegar à consistência certa desta massa. Então ele fez assim: juntou 175 g de farinha, 2 ovos, 250 mL de água, sal e um gole de óleo. mexeu com a colher de pau, formando círculos e de cima para baixo. A massa fica com uma consistência muito forte e nada fluída.

Deixou a massa descansar durante 15 minutos. Entretanto, pôs muita água a ferver numa panela. Quando a água borbulhava fortemente pôs sal e óleo e encheu a máquina de pressionar o Spätzle.

Encaixou-a na panela, pressionou a massa para a água borbulhante e repetiu a operação enquanto houve massa.

Tapou bem a panela, pressionando a tampa e deixou cozinhar em lume alto durante 2 ou 3 minutos.  A massa está cozida quando vem ao de cima. Retirou para uma travessa.

Nesta altura já a minha sogra tinha os rolos de carne, ou rouladen, prontos. Que devem começar a preparar-se muito antes do Spaetzle – eu é que comecei a estória pela fim! Então ela fez assim: dispôs numa tábua os bifes finos e compridos. Barrou-os com mostarda em grão e recheou-os com cebola, salsa e bacon picados. Enrolou-os e prendeu-os com fio de cozinha. Marcou-os em azeite quente até dourarem. Retirou e juntou mais salsa, cebola e bacon picados e deixou refogar com cenoura, tomate e vinho tinto (e sal e pimenta). Deixou o molho apurar, reduziu a puré e voltou a juntar os bifes ao molho. Tapou a panela e levou-a ao forno durante uma hora. Levámos o “Spätzle mit Rouladen” à mesa e convidámos a Moira a sentar-se connosco. Moira, espero que tenhas gostado desta refeição, mas a noite ainda agora é uma criança. Depois do jantar, pomos os cachecóis e os gorros, as luvas e o casaco mais quente e acompanhamos o frio até ao Mercado de Natal no centro da cidade, para beber um Glühwein, que não deixa o frio entrar alma a dentro – até porque temos o coração quentinho com tão boa companhia para jantar!

(clique na imagem para os devidos créditos)

pumpkin strudel


Hoje, reparei que pela blogosfera se comemora o dia mundial da massa. Talvez a massa se resuma a macarrão, e assim sai a minha comemoração ao lado. Não se resumindo, trago a esta celebração uma massa que não vem de Itália. É um strudel de espelta e uma refeição ideal para um jantar de Outono. E o artista que compôs esta bela obra foi o meu marido.

 

E ele fez assim: Juntou 300 g de farinha de espelta com meia colher de chá de sal, 4 colheres de sopa de óleo de girassol e 3 gemas de ovo. Foi adicionando água fria até a massa ficar elástica e dividiu em quatro porções.

Deixou a massa e dirigiu-se ao recheio: Refogou cebola em azeite e pimenta moída na hora, juntou meio quilo de  abóbora hokkaido cortada aos cubinhos e, quando ficou al dente, juntou 300 g espinafre e 200 g de queijo feta esfarelado. Temperou com sal, noz moscada e ervas frescas.

E voltou à massa: pôs bastante farinha na bancada e esticou cada bola com o rolo da massa (tb. enfarinhado) e dividiu o recheio pelas quatro porções de massa. Depois, ao tentar enrolar o strudel, levantou a grande questão existencial: “porque é que experimento sempre novas receitas quando temos convidados?!” e eu sosseguei-o dizendo “tasse bem…”, que a sua grande criação estava no caminho certo. Então, ele  uniu as pontas da massa em vez de enrolar utilizando o típico processo de enrolar tortas. Assim fez e, para finalizar, pincelou a massa com azeite e ovo batido.  Foi ao forno a 180 graus por cerca de 30-40 minutos e ficou mais que perfeito.