Hoje, dia de Reis, a romã é Rainha. Sempre tive um fascínio por este fruto, com sua coroa no topo e recheado de rubis de carne saborosa, sumarenta. E no dia de Reis, faço questão de comer uma romã, conforme a tradição que se celebra na casa dos meus avós. Retirei uma cinta da pele da romã a toda a sua volta. Comecei a cortar em volta da coroa. Puxei-a, tentado arrastar três bagos, que simbolizam a saúde, a paz e o amor. Veio apenas um agarrado, então tirei eu dois bagos e coloquei-os na coroa, pensando para com o destino que, se ele não nos bafeja com a sorte, somos nós a bafejar a própria sorte no nosso destino. Voltei a cortar uma cinta a toda a volta da romã, mas desfazada em 90 graus da que já tinha feito. Abri a romã, concentrada no próximo passo da tradição, que dita não se poder deixar cair nenhum bago para o chão para garantir que o vil metal chegue a casa durante todo o ano. Dividi em cachos, com alguma ginástica apanhando com a palma da mão, os bagos a quererem soltar-se. Até agora, tudo bem. Dei um cachinho ao meu marido e outro à minha filha e disse-lhe que comesse a romã, fruto que ela adora, sem deixar cair nenhum bago. Vi-a começar a retirar com cuidado os baguinhos para o prato e concentrei-me no meu cacho, tentando apanhar os bagos que teimavam em saltar, como se tivessem um trampolim nos pés. Quando voltei a olhar para a minha filha, a maior parte dos bagos estavam no seu prato (é melhor não referir os outros…) e ela estava a regar a romã com o seu sumo de maçã e a explicar-me algo numa linguagem que ainda não domino. Talvez me explicasse a supremacia da combinação romã-maçã. Ou então que as tradições… enfim, talvez não precisem ser sempre seguidas.
E para quem não quiser seguir esta tradição, deixo uma sobremesa com o fruto Rainha para o dia de Reis. O nome é de uma sobremesa da Nigella e esta receita é adaptação minha de incontáveis receitas que li e fiz de cheesecake. Triturei umas bolachinhas de Natal já duras com um nico de manteiga, até ficar uma mistura coesa e distribui esta massa pela base de uma forma de 18 cm. Por cima desta base, pus um creme de chocolate, que fiz derretendo alguns quadradinhos de chocolate em leite e juntando algum açúcar e cacau. Sobre este creme, não tenho quantidades precisas. Se o caro leitor não quiser seguir o seu instinto, pode usar uma qualquer receita de ganache de chocolate, ou simplesmente suprimir este passo. Depois, bati 250 g de mascarpone com o sumo e polpa de uma laranja e 4 colheres de sopa de açúcar, usando a máquina com o gancho para bater claras em castelo. Por fim, dispus este creme em cima da base de bolacha e espalhei baguinhos de romã por cima do creme de mascarpone. Para simular o massacre, pressionei uns quantos baguinhos entre o polegar e o indicador, deixando o sumo púrpura macular este creme branco, a evocar a neve lá fora.
E agora vou para a cozinha fazer estas bolachinhas-estrela da Pipoka, para que os Reis Magos saibam que astro devem seguir!
Sofia, como sempre adoro ler as tuas mensagens, e este cheesecake ficou delicioso, bela ideia!
Um beijinho e Feliz 2011
Gisela,
Comentarios como este teu, dao-me alento e inspiracao para continuar! 🙂
Beijinhos e obrigada!
Sofia
Sofia,
Gostei tanto da estória, de tomar conhecimento desta tradição, e da receita, que já partilhei no facebook do TFL.
beijos
Pipoka,
Obrigada! O statmeter disparou logo, eheheh! 😉
Beijinhos
Sofia
Uma colorida celebração do Dia de Reis! Gostei muito da criatividade demonstrada com o teu Docinho! E da tradição das romãs. Em minha casa, em pequenita nunca me lembro de ver romãs, mas deve ser por ser lisboeta, alfacinha. Feliz 2011! Bjs.Bombom
Bombom,
os meu avos teem uma romanzeira no quintal e este ano, pela primeira vez na vida, comprei romas!
Beijinhos
Sofia
Gosto muito de romãs, embora a única tradição que eu sigo seja a de comer até não poder mais esses baguinhos da cor de rubis 🙂 É caso para dizer que este massacre nem sequer é condenável he he
Ameixinha,
E incrivel, como em cada comentario teu, aqui ou nos outros blogues, nao consigo (nem quero) conter a gargalhada! 🙂
Espero que continues sempre bem humorada!
Beijinhos
Sofia
Bom ano Sofia…
De volta ao reino Bárbaro hehehe…
Confesso que nunca fui muito à baila com o apresentado fruto, tudo mudou numa solarenga tarde de Fevereiro na velha cidade de Jaffa em Israel. Enquanto fotografava o mercado local deparei com um senhor que prensava romãs frescas para dentro de copos de plástico. Pedi um sumo de romã e perguntei quanto custava. Ele disse que o primeiro era por conta da casa visto que era impossível eu não voltar para mais. Bebi o sumo e regressei ao passeio.
No dia seguinte regresso à mesma rua onde o mercado há muito tinha morrido. O senhor das romãs continuava a prensar o fruto, sempre com uma pequena mas constante multidão de pessoas à sua volta. Aproximo-me e peço um copo, o senhor reflecte por parcos segundos e diz: Haaa, o segundo já é mais caro!!! Desatamos os dois a rir… Ao fim de duas semanas já nem precisava pedir e o preço até foi diminuindo com o tempo, mas o gosto pelo sumo de romã prensado em Jaffa, humm, esse vai ficar para sempre…
Olá querida Sofia! Ainda bem que és tu que massacras a neve e não a neve que te massacra a ti! 🙂 Que delícia! Olha, sabes que eu nem sou muito de romã…mas a tua foto tem tão bom aspecto que até me apetece! Um beijinho 🙂
Achei bastante curiosa esta tradição que desconhecia por completo.
Gosto bastante de romas, de preferencia docinhas, mas não me lembro da ultima vez que me deliciei com uma.
O que guardo na memória e que talvez me constranja um pouco para comprar romãs é a ideia de ficar com as mãos com uma cor impregnada e que tenho dificuldade em retirar.
Muito obrigada pela partilha desta tradição associada às romãs e ao dia de réis
passei para deixar um beijinho e desejar-te um bom ano
a sobremesa parece-me muito boa:-)
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