Salada acalma-bebés-a-chorar

Hoje, quando fui fazer o jantar, a minha filha não achou muita graça e começou a chorar. Queria chocolate. Sumos. Bolos. Bolachas. Enfim, queria tudo o que tinha a bolinha vermelha no canto superior direito à hora do jantar. Preparei o esparguete à bolonhosa e entretanto comecei a fazer a salada de alface e a pensar que uma tarefa tão fácil como rasgar folhas de alface se pode tornar tão difícil quando acompanhada por uma orquestra de lágrimas de crocodilo, soluços e uma poderosa voz. Foi então que se fez luz e eu descobri que o que a minha filha queria não eram bolos nem bolachas, mas um bocadinho de interacção e descoberta. Dei-lhe as folhas da alface já lavada e perguntei se queria ser ela a fazer hoje o jantar. Ela olhou para mim e o seu olhar disse-me que sim, dando ordem à sua orquestra do choro para parar. Dei-lhe as folhas para rasgar e disse-lhe para as por na taça das saladas, tarefa que cumpriu com aprimo. Quando terminou, disse-me “já ’tá mamã”. Depois, passei-lhe os oregãos e perguntei se ela queria salpicá-los pela sua salada. À sua resposta óbvia, comecei a fazer o molho da salada. Numa tacinha, juntei azeite, flôr de sal e vinagre balsâmico. Mexi e passei-lhe a tacinha com uma colher para ela ir pondo o molho na salada. Revelando habilidade e espírito prático, rejeitou a colher e despejou o molho na salada, sem entornar um pingo. Depois, com entusiasmo, mexeu a salada, e fê-lo fazendo jus ao ditado do meu bisavô, que dizia que uma salada deve ser temperada por um cego e mexida por um louco. Nesta altura, vi folhinhas verdes a voarem pela cozinha e aterrarem no chão. Eu fiz um exercício zen e pensei que mais valem 2 salpicos verdes a voar do que um lago de lágrimas no chão e uma osquestra desafinada no ar. Limpámos o chão e fomos para a mesa. Aproveitei a onda do entusiasmo e servi directamente a salada. A minha filha pegou numa folha e cheirou. Pôs na boca a singela folhinha de alface e comeu. Depois apontou para o esparguete e pediu-me: “Comida, mamã? Sim?”.

4 thoughts on “Salada acalma-bebés-a-chorar

  1. Sofia
    Lembraste-me uma viagem para o Porto há uns 16 anos, eu na condução e o meu filho mais novo na cadeirinha atrás, não a chorar mas a berrar! Impossibilitada de brincar ou ele de me ajudar na condução, assim continuou até adormecer, mesmo a dormir ainda soluçava.
    Foi o choro mais longo da minha história de mãe!
    Então a salada não é comida? Deve ser muito pequenina ainda…
    Beijo

    • Olá Helena.
      Na verdade, fiquei admirada com o que ela disse. Cheirou a salada como costuma cheirar as plantas que vê por aí, mas estas sim, tenta sempre comê-las! 😉 Enfim, eu fiz um bocadinho de bluff, comi a minha salada, intercalada com uns exagerados “mmmmmmm”, “que bom”, “não mexe no prato da mamã”… “bom, então vá lá come lá a salada da mamã. Mas só hoje”. E foi assim que a minha filha, com um sorriso vitorioso de quem conquista o poder de comer do prato da mae, comeu mais um bocadinho da sua salada! 😉

    • Pipoka, entao podes dizer aos teus amigos que o mais importante é o método. Os ingredientes variam conforme o gosto do freguês! 😉
      beijinhos

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